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O Paradoxo do Conhecimento: Quando o Saber Sufoca a Criatividade
Imagine uma empresa repleta de dados e especialistas, mas com dificuldades em inovar. Este não é um cenário de ficção científica; é um problema comum. O paradoxo é este: quanto mais conhecimento uma empresa acumula, maior a probabilidade de ficar presa aos sucessos do passado, limitando sua capacidade de adaptação e criação de algo verdadeiramente novo. Uma pesquisa recente da Ardans SAS, liderada por Aline Belloni e Patrick Prieur, ilumina essa questão e propõe uma solução eficaz.
O Problema: Conhecimento Isolado, Inovação Estagnada
As empresas frequentemente acumulam conhecimento em silos. Cada departamento, cada equipe, detém seus próprios insights, procedimentos e melhores práticas. Esses bolsões de conhecimento são como ilhas desconectadas, impedindo o fluxo de informações essenciais para grandes avanços. Isso gera uma cultura de melhorias incrementais, muitas vezes presa a um ciclo de refinamento de métodos existentes, em vez de trilhar novos caminhos.
A norma ISO 9001 reconhece a importância da gestão do conhecimento organizacional para a melhoria da qualidade. No entanto, os pesquisadores demonstram que simplesmente ter um departamento de “gestão do conhecimento” muitas vezes é insuficiente. Trata-se de um paliativo para um problema sistêmico.
A Solução: Integrar a Gestão do Conhecimento aos Processos Operacionais
O trabalho de Belloni e Prieur destaca a necessidade de uma integração profunda da gestão do conhecimento na estrutura operacional de uma organização. Eles propõem uma estrutura que alinha dois modelos poderosos: o ciclo PDCA (Planejar-Fazer-Verificar-Agir), pilar da gestão da qualidade, e o modelo SECI (Socialização-Externalização-Combinação-Internalização) de criação do conhecimento.
O ciclo PDCA representa um processo contínuo de melhoria. Planeja-se algo, executa-se, verificam-se os resultados e age-se com base nas descobertas para aprimorar o processo. O modelo SECI, desenvolvido por Ikujiro Nonaka e Hirotaka Takeuchi, descreve como o conhecimento tácito (implícito, experiencial) se transforma em conhecimento explícito (documentado, codificado) e vice-versa. Esse processo recíproco é essencial para a verdadeira inovação.
A Sinergia SECI-PDCA
Combinando SECI e PDCA, Belloni e Prieur constroem uma abordagem abrangente. O modelo SECI orienta o ciclo PDCA:
- Planejar e Fazer: Internalização (I) e Socialização (S) são vitais. As equipes precisam acessar o conhecimento explícito existente (procedimentos, normas), mas também ter a oportunidade de compartilhar conhecimento tácito por meio da colaboração e mentoria. Isso garante que todos estejam preparados e possam contribuir efetivamente.
- Verificar e Agir: Externalização (E) e Combinação (C) são cruciais. Após uma iniciativa, as equipes refletem sobre suas experiências, convertendo aprendizados tácitos em conhecimento explícito. Isso é documentado e integrado ao banco de conhecimento da organização, melhorando processos futuros.
Essa integração garante que o conhecimento não seja apenas acumulado, mas ativamente criado, compartilhado e refinado iterativamente. Transforma a empresa em um organismo de aprendizagem, em constante adaptação e inovação.
Além dos Departamentos: Uma Abordagem Sistêmica
Os pesquisadores da Ardans SAS enfatizam que um sistema eficaz de gestão do conhecimento não é um departamento separado; ele está integrado à estrutura da organização. Requer dois processos adicionais importantes:
- Liderança em Gestão do Conhecimento: Define a estratégia geral, garantindo alinhamento com os objetivos da empresa e estabelecendo responsabilidades claras. Estabelece o “porquê” do sistema de gestão do conhecimento.
- Suporte à Gestão do Conhecimento: Fornece as ferramentas e recursos necessários – comunidades de prática, repositórios de conhecimento, programas de mentoria – facilitando os processos SECI. Fornece o “como”.
Essa abordagem integrada supera as limitações do conhecimento em silos. Promove uma cultura onde o conhecimento não é apenas um recurso, mas um motor dinâmico que impulsiona a inovação contínua.
As Implicações: Libertando-se do Passado
O trabalho de Belloni e Prieur oferece um antídoto eficaz à estagnação organizacional. Integrando ativamente a gestão do conhecimento ao cerne operacional de uma empresa, eles propõem um caminho para libertar-se das restrições dos sucessos passados, liberar o potencial da inteligência coletiva e cultivar uma cultura de inovação contínua. Não se trata apenas de acumular conhecimento; trata-se de usá-lo – e aprender com ele – de forma sempre evolutiva.
Esta pesquisa é uma contribuição significativa porque vai além de soluções simplistas, abordando as questões sistêmicas fundamentais que dificultam a inovação em organizações ricas em conhecimento. A estrutura proposta pela Ardans SAS oferece uma abordagem prática e eficaz para transformar o conhecimento de um ativo estático em um motor dinâmico de progresso.
